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um blog de Nuno Gouveia

21 julho 2003

a flauta mágica numa tarde de domingo 




hoje cometi um erro.
cedi a uma vontade ingénua
e fui ver a flauta mágica.

estava então sentado na noite do teatro,
escutei comovido os sons que tanto aprecio,
lágrimas ferventes corriam-me pela face,
como que por magia fui saudado pela beleza imortal,
em tempos familiar, mas agora estranha.


como cantavam os ditosos anjos!
como soava doce a canção da flauta de Tamino!
todos os temores da arte que jamais me animaram
percorreram de novo o meu coração assustado,
quebraram-no e tornaram-se dor delirante.

em meu redor, imersos numa nuvem de fedor,
entretidos a amachucar os programas,
estavam sentados os satisfeitos filisteus de domingo,
elogiaram a representação e meia-volta para casa.

eu porém, que não conheço lar nem paz,
que sempre soube apenas colher espinhos,
vagueio vacilante pela noite,
recebo no peito as lanças da saudade bem fundas,
fujo dali, para atirar em mim próprio logo que possa,
mas, mais tarde, eu, um diletante nato,
já quente e cansado de tanto correr,
aterro algures onde corram o vinho tinto e o conhaque.

Herman Hesse - música

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