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um blog de Nuno Gouveia

10 julho 2003

Talking Heads 

a pressão aumenta em todas as cabeças.
as razões sucedem-se e confundem-se com a ilusão.
o homem perdeu a mão das grandes certezas edificadoras;
a história desaba sobre a adição, o homem perde a mão,
vê-la cair e incendeia-se.

perde para o grande irmão, que é diabo então...
e agora perde para o grande cabrão;
morre sem morrer.
vive sem viver.
perde e entontece e delira e vai á televisão.

chora e ri em directo.
vende a alma de um jeito moderno,
chega sempre atrasado ao conhecimento,
e cai, e fica para trás.
penas de tudo o que vejo.
penas de tudo o que sinto, por não se dizer a tanta gente,
que há coisas que não precisam de fazer para serem maravilhosas.

reparem nas vossas mãos.
levem-nas á terra.

a televisão põe-se aos saltos.
alguem falou mal dela?
pergunta.
um silencio que arrepia.
ninguem pia.

o grande irmão é muito respeitado.
tem poder e inteligencia e convence-se que é Deus,
mas a verdade é que é rã.
vejo bem o pantano onde vive e os seres que se julgam bem menores que ela.
que triste.
comentam duas abelhas, que a caminho de casa voam sob as audiencias.
os homens das máquinas nem querem saber.
é o grande irmão que lhes paga o ordenado, mesmo quando se apresenta como sendo
a «Paramol» ou a «Fábrica dos caprichos».

á noite é bom gastar o dinheiro nuns copos,
e brindar ao patrão, esse grande cabrão,
que vive nalgum reino chamado Azeitão ou até Cote D`azur ou Milão.
sabe sobretudo tornar-se invisivel, por trás de cada imagem tal camaleão.
correr nas veias dos esfomeados, cobrar a dizima em troco de esperança.
mas...
não é esperança mas sim cagança;
não é reino mas sim poleiro.
não é invisivel mas dissimulado;
não é sobretudo, afinal, inofensivo.
é cruel e enganador.
é em cru grande dor, que perturba o amor rumo a diamante.
que nem vê o elefante, nem sente o gigante.
que nem chega a vir á luz.

é mentira o que digo?
julgas ser mentira?
sonambulo.
crês no contentamento?
muito bem, meu amigo e ainda mãe;
não te vendo a ti nenhuma ideia.
és nascido e por isso deves discordar e viver.
não faças caso
sou eu...
que como poeta e amigo, perdido no tempo da gramática,
olho uma vez mais para a televisão de um pais,
e penso:
sou nascido, mas não posso concordar com isto.


Nuno Gouveia

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