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um blog de Nuno Gouveia

13 novembro 2003

Crunch 

O lado direito do meu cérebro,
dá uma colherada ao lado esquerdo,
e eu registo isso,
como um sinal evidente da minha saúde.

N.G.

UM GRÃO, EIS A QUESTÃO. 

Um grão de areia, sucedendo a outro.
Um pedaço de madeira polida.
Uma duna e o azul ao fundo,
Pura ilusão, valsa repetida.

Cor erótica de fim de tarde,
Surge, convidando.
Que noite trará no bico,
A gaivota que plana?

Rebenta uma onda,
Mas só por haver mar.
Cheio de desejos transborda o coração
E leve espuma me adorna,
Repetindo-se o baptismo.

Insecto.
Gente.
Genial universo abandonado.
Os rapazes que rebentam nas ondas
E o músico que abandona a praia.

A grande estrada do sol,
Segue para lá do horizonte
Mas ninguem se aventura,
Nem mesmo os ambiciosos.

Como nominar este velho encanto?
Terei forma de o traduzir,
Reunindo os meus vocábulos?
Espanho-me na rebentação,
Forma airosa de evitar um não.

Nuno Gouveia

07 novembro 2003

Diario a bordo da terra - tomo 1 


A minha missão continua por defenir.
É de madrugada e continuo acordado.
As minhas recentes investigações a bordo do planeta,
inquietaram-me e não me deixam descansar.
Ao insurgir-me no grupo dos poetas, percebi melhor,
que tambem este grupo tem as suas regras.
Quando iniciei a minha investigação,
tive a inocente convicção que os poetas eram homens livres,
que haviam de mostrar caminho, e ser heróis de cada geração,
mas os condados são ainda limitados,
e as confederações criam os seus próprios escritores.
Este disfarçe começa a ser perigoso.
As máquinas já estão desconfiadas sobre o meu trabalho,
e devo ser rápido a escolher outra máscara.
Politico já não dá.
Alguns irmãos estão a ser eliminados, e mesmo o nucleo central, ameaça ruir. A ultra escravatura permanece intocável;
O irmão Orwell tinha razão.
o ocidente está contra o oriente e o código vermenho não tarda a surgir.
Já se sente durante os sonhos e nos silencios da propaganda.
Tenho que desligar.
Temo ser detectado na vigilia da noite.

Diario a bordo da terra - tomo 2 

A estação do inverno está quase a chegar.
Permaneço em Portugal,
junto à cidade de Lisboa.
A europa federal prepara-se para as eleiçoes
e a publicidade volta a ganhar força.
O irmão Johny Cash voltou para casa.
Pensei hoje nele, como num cristo pessoal.
Já escolhi o meu proximo disfarçe.
vou tornar-me cristão,
e até já arranjei um passe em segunda mão.
Tenho passado algum tempo a estudar este grupo, e neste momento, é o mais adequado ao trabalho que estou a desenvolver.
Um bom cristão não se compromete, e tem acesso a todas as zonas. Até as de prazer. sendo o prazer um grande objectivo da minha missão, estou certo que escolhi bem e que este disfarçe me trará sucesso.
Os meus projectos multiplicam-se, mas tenho conseguido tratar das plantas.
( a poesia roubava-me muito tempo)
Estão de boa saude e parecem ter-se adaptado; em breve serão replantadas.
Não escreverei nos próximos tempos; não é um habito entre os cristãos.
Este relatório, fi-lo á pressa; o recolher é eminente e a televisão está quase a acabar.
Em breve tocarão á porta.
É um dos ministros do grande poder, disfarçado de carteiro.
Os dias são agora mais curtos e mais inconstantes, há luz o tempo todo.
É impossivel saber as horas, a não ser, medindo o medo.
É hora de funcionar, dizem todos na grande gare.
Os tuneis rodoviarios crescem em grande escala, mas o oxigénio está-se a aguentar.
Vai-se acabando, mas tambem a vida, e se nada viver sobre o planeta, não haverá ninguem para se queixar.
Vou hibernar para não soar o alarme.

A cautela é mãe deste diario.

o caminho 

escureceu, a memória infantil.
os largos braços do tempo,
abraçam-na com ternura.
a arte sorri por cima de um homem,
filhas do espaço, regozijam-se as estrelas.
cada uma das coisas vivas se lança numa aventura.
se na minha acontecem as palavras,
tambem nas outras algo acontece.
o cosmos pula e não se esquece,
do previlégio radioso.
tudo arrasta com o seu avanço,
até as ideias que se querem agarrar.
o que se agarra é somente poeira,
miragem, cegueira, prestação casual.
quanto afinal, é cheio no caminho?
respiro mas não ouço,
o rugir do grande poço.
caio apenas como todos os astros.
a grande corrente, nada tem a provar,
nem que sabe, nem que não sabe,
o caminho é assim, vazio.
a Deus nunca ninguem viu,
e o amor ninguem pode traduzir,
mas sempre, o que vive, sabe por onde ir,
arrastado na corrente de verdade, por tudo o que sente.
por cima de um homem, pende o seu astral,
e de todas as coisas, é esta a mais real.

Nuno Gouveia

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