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um blog de Nuno Gouveia
11 dezembro 2003
o anjinho
quem é este desgraçado,
que passa por mim com a fome ás costas?
de onde virá cambaleando,
subindo,descendo,
lúcido ainda, no pico da vida?
porquê ele e não eu?
tudo se intromete e segue, existindo.
tudo me ultrapassa de forma indefenida.
as suas roupas e a sua barba;
a sua careca baça.
o frio instala-se sobre a música do natal
e a nuvem cinzenta vai formando o seu exército.
quem é o desgraçado que já não vejo nesta rua?
ter-se-á alistado à ordem dos çéus,
ou vai ainda atravessando estradas?
vejo apenas a porta que em mim deixou aberta
e a luz amarela, quase nada, que vai entrando.
se me encontrarem a dormir,
junto ao pinheiro por acabar,
com um duende sorridente à mão de semear,
e os olhos meio abertos como se estivessem a sonhar,
reconheçam em mim o sujeito de qualquer rua,
e não me façam mais que uma sopa dos pobres.
o medo de mais uma cerimonia,
aumenta sem cura,
e a intuição de que tudo está errado
não me permite colocar o anjinho.
já um pouco de sal numa sopa quentinha...
N. G.
que passa por mim com a fome ás costas?
de onde virá cambaleando,
subindo,descendo,
lúcido ainda, no pico da vida?
porquê ele e não eu?
tudo se intromete e segue, existindo.
tudo me ultrapassa de forma indefenida.
as suas roupas e a sua barba;
a sua careca baça.
o frio instala-se sobre a música do natal
e a nuvem cinzenta vai formando o seu exército.
quem é o desgraçado que já não vejo nesta rua?
ter-se-á alistado à ordem dos çéus,
ou vai ainda atravessando estradas?
vejo apenas a porta que em mim deixou aberta
e a luz amarela, quase nada, que vai entrando.
se me encontrarem a dormir,
junto ao pinheiro por acabar,
com um duende sorridente à mão de semear,
e os olhos meio abertos como se estivessem a sonhar,
reconheçam em mim o sujeito de qualquer rua,
e não me façam mais que uma sopa dos pobres.
o medo de mais uma cerimonia,
aumenta sem cura,
e a intuição de que tudo está errado
não me permite colocar o anjinho.
já um pouco de sal numa sopa quentinha...
N. G.